Elis, 34 anos de blue

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 "Ontem de manhã quando acordei
Olhei a vida e me espantei
Eu tenho mais de vinte anos
E eu tenho mais de mil
Perguntas sem respostas
Estou ligada num futuro blues" ( 20 anos blue)
https://www.letras.mus.br/elis-regina/101409/


 
E assim, se passaram mais de 34 anos da morte de uma das maiores cantoras que o mundo já viu. Eu tinha 5 anos quando Elis morreu, não vivi a sua época, mas desde de cedo comecei escutar a sua música, e a cada ano que ia tomando consciência fora do mundo infantil, ia acumulando memória de sua persona, seja numa foto de revista, ou num programa de tv .

Para a maioria das pessoas, a figura de Elis é a de cabelo curtinho, à la Mia Farrow, mas para mim, a imagem que reverberou por anos e que tenho presa na memória é dela de cabelo grande, chorando, cantando Atrás da porta, no especial da Globo de 1980. Para uma criança de 10 anos, aquela música não fazia sentido,  mas a imagem de alguém que ia as lágrimas cantando, sem parar, sem desafinar, era algo intrigante e marcante. Como alguém fazia isso? Gal Costa já admitiu que se ela chorasse cantando tinha que parar e , Elis usava o choro a seu favor, à interpretação da canção,  levando- a outra dimensão.
Os  anos se passaram e muito tempo depois dos 20 anos, a  música de Chico Buarque faz todo o sentindo, e o peso da interpretação de Elis é um canto por todas as mulheres que já amaram , se descabelaram, sofreram e quiseram se vingar por um amor.

 Finalmente chegou 2016: 3 biografias depois, um musical ; agora a primeira cinebiografia!
Esse primeiro filme veio acompanhado de expectativa, pois ver Elis (ou seu retrato) na tela grande do cinema era um sonho. Confesso que desde que vi o trailer fiquei um pouco decepcionada, pois a linguagem parecia muito tv, os recortes escolhidos pelo diretor (Hugo Prata) não eram os que eu teria em mente para o filme. Mas o filme não é meu, é dele e cada pessoa tem sua Elis, tem seus recortes.

Desde o início a missão parecia impossível, resumir em 1hora e 55 minutos,  a vida de uma das mais incríveis trajetórias da música e uma das personalidades mais complexas. Diante deste fato, Hugo Prata conta essa história através de momentos, e não pela visão da personagem. Personagem esta cercada de homens que irão influenciar seu caminho e decisões. Fora Elis e uma pequena aparição de Nara Leão(Isabel Wilker), não existe outra personagem feminina.

O filme retrata a vida de Elis desde sua chegada ao Rio de Janeiro em 1964 até sua morte em 1982, o ritmo é acelerado, nunca fica chato, mas de tão corrido, principalmente no terço final, falta coerência e por vezes as cenas não fazem conexões entre si.
Perde-se muito tempo retratando o casamento com Ronaldo Bôscoli, enquanto isso, seu grande parceiro artístico e pessoal , Cesar Camargo Mariano, aparece pouco e pouco tem o que fazer.

O filme mostra os sucessos e desventuras dessa baixinha que mudou a música brasileira; da vitória no I Festival da Música da TV Excelsior, ao sucesso retumbante do Fino da Bossa ,ao lado de Jair Rodrigues, das turnês europeias, ao sucesso arrebatador de Falso Brilhante; da crucificação pela esquerda após ter cantado nas Olimpíadas Militares, à gravação de O bêbado e o equilibrista -que veio a ser o hino da anistia- e trouxe o irmão do Henfil de volta ao Brasil. Quase tudo está lá, mas as omissões são muitas e importantes. Como não mencionar a gravação Elis e Tom(1974), considerado por muitos críticos, um dos maiores discos da história da música brasileira?
Até quando menciona, tudo é corrido e minimizado, como a referência ao espetáculo Falso Brilhante (1975). O que se vê na tela não faz jus ao que foi, um show espetáculo único, inovador, que quebrou  paradigmas no showbizz (algo que os americanos só fizeram 15 anos depois quando Madonna lançou Blonde Ambition em 1990). E como omitir outras turnês marcantes como: Transversal do tempo de 1978 (existe uma breve referência quando toca a versão rock cantada por ela de Deus lhe pague), Saudade do Brasil de 1980(Elis colocou 15 artistas amadores do ABC paulista no palco -atores e bailarinos), nele ela dançou, pulou, cantou e depois gravou um disco duplo do show, e por fim, cadê Trem Azul? Sua última turnê , onde ela cantava leve e solta, para o encanto de uns e o espanto de outros . Foi nesse show que ela cantou uma versão de Se eu quiser falar com Deus que fez Gilberto Gil ficar de queixo caído, pois tinha baixado Janis Joplin e Billie Holiday ao mesmo tempo....algo estranho estava no ar. 
Mas tudo vale a pena , pois Andreia Horta submerge na personagem e na maioria das vezes, não percebemos a atriz, mas vemos Elis! Salvo uma ou outra cena, que ela soa caricata, mas não chega a prejudicar, no geral ela está lá, Elis está na tela. Uma atriz a favor da sua arte, num trabalho de total entrega, como não poderia ser diferente quando se fala de Elis Regina!

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